1 de jul. de 2011

2 - Infame


Aula de poéticas artísticas. Faziam 3 dias que havia visto aquele sorriso estonteante na cafeteria e depois dali, nunca mais o vi a não ser nos meus desenhos.
Estava mesmo disposta a procurar pro ele, só não sabia onde. Sempre vou naquela mesma hora, naquele mesmo lugar e ele nunca havia aparecido antes. Pensei ser turista e então conversei com a Nancy, garçonete há mais de 6 anos daquele lugar, que me disse que pareciam ser todos universitários, comemorando algo bobo.
Agora meu caderno é cheio de olhos e bocas de um ser que nem ao menos tem nome, creio que isso seja um ótimo aprendizado a ser compartilhado com a minha turma de poética. A professora falava tão lindamente sobre as inspirações e aspirações dos artistas ao conceber sua arte, que minha paixão por alguns deles fica muito mais explicável e forte. Não sei o que seria da minha vida sem as artes. Creio que seria algo semelhante a esterco colado no asfalto.
- Iz?
Lohanni me chamava da cadeira ao lado, enquanto jogava pequenas bolinhas de papel em meus cabelos com o intuito de chamar minha atenção. Eu a ignorei até o momento que uma das bolinhas foi direto no meu rosto.
- O que foi Lou?
Também respondi sussurrando.
- A Samantha da sala B está convidando a todos para uma festa temática. Você vai?
Ela disse com um tom animado, que implorava pra que eu também fosse.
- E qual o tema?
- Filmes românticos.
- Nossa, que espécie de tema lixo é esse?
- É o tipo de tema dela! Não se lembra do último? Se não me engano era algo com Arte Abstrata. Os temas são ruins, mas as festas sempre são muito boas e você nunca foi a nenhuma.
- Está bem, até o fim da aula eu lhe digo se irei ou não.
Até o fim da aula, fiquei rabiscando em meu caderno coisas que poderiam me ajudar a estudar mais aquela matéria quando chegasse em casa, não estava muito com cabeça o suficiente pra mais uma vez ser a estrelinha da sala. Tudo que queria era ficar em silencio e olhar pela janela. Nunca havia me sentido assim antes.
...
O sinal tocou.
Quando dei por mim a Lou e a Dessa já estavam do meu lado como dois diabinhos, falando de como a vida não era somente estudo blá blá blá ir a festa e mais uns quinhentos blá blá blás. Então a Adessa disse:
- Iz, você tem que largar esse complexo de ter que ser a mais estudiosa, suas notas já são as melhores, os professores já te adoram. Você pode arrumar um tempo pra se distrair com suas amigas ou isso é pedir demais?
Parei de andar pra escutá-la e então ela se pôs a minha frente, enquanto a Lou assistia o discurso com ar de quem concordava com cada vírgula do que era dito, até que tomou a palavra.
- É sempre assim, a gente te chama e você nunca vai. Você gosta de dançar, gosta de músicas legais. Poxa, divida isso com a gente às vezes! Eu tenho certeza que essa é uma ótima chance pra se distrair, esquecer certos cara da cafeteria...
- Hey!
Eu intervi , indignada.
- Como você sabe sobre isso?
- Eu vi como você ficou secando ele pelo reflexo no carro. Só você acha que essa tática é infalível, pode até ser para os outros, mas eu te conheço e não é de agora. Além das enumeras bocas masculinas que apareceram no seu caderno e as perguntas pra Nancy...eu também vi.
- Do que se trata tudo isso? Invasão de privacidade? Eu não posso mais ter coisas só minhas? É isso?
Respirei fundo, me recompus e disse antes que qualquer um pudesse falar.
- Não quero mais conversar agora, vou pra casa!
De longe a Dessa gritou:
- Nos somos suas amigas, suas melhores amigas e te amamos!
...
Fui caminhando para casa, aproveitando cada passo que dava tentando sempre não pensar em absolutamente nada, só nas esculturas que via, nos pássaros que passavam e nas velhas construções.
 Ao chegar ao meu prédio, sempre falava com o Bil. Ele era o dono do meu apartamento que ficava sob a loja de livros dele. Era bom o ter ali, apesar de já ser um senhor de meia idade ele nunca se negou a me ajudar ou se comportou de forma ranzinza como era muito comum por aqueles lados. Sempre fui uma inquilina adorável, e isso é fácil tendo meu quarto isolado contra o som.
Depois de beijá-lo, abri a porta e subi as escadas quase correndo. Abandonei as minhas coisas no chão da sala e joguei-me contra a cama. Não queria dormir, somente pensar. No entanto os meus olhos começaram a pesar enquanto contemplava o meu pôster do filme Mouling Rouge e o sono foi eminente.

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