30 de jun. de 2011

1 - Primeiro ato.



     10 da manhã e tudo que as minhas pálpebras desejam é continuar seu caso ávido entrelaçando meus cílios e com certeza me fazer perder a hora. Depois daqueles 3 minutos preciosos após o despertador tocar minha música preferida, finalmente é o momento de levantar e para não haver mais embromações, lanço meu corpo pra fora da cama e antes que o mesmo caia de cara no chão, apoio- me com os pés. Estou quase de pé e o dia finalmente começou!
     Ligo o aparelho de som e coloco The plastines para tocar em um volume pacificamente aceitável enquanto cantarolo balançando a cabeça sem nenhum ritmo em especifico. Tudo parte de um grande ritual para que o dia comece bem. Minhas paredes de tijolo cru e meus posters de filmes e astros são minhas únicas testemunhas diárias, além da web cam que por vezes já esqueci ligada.
Sento-me diante da penteadeira e encaro a minha imagem refletida no espelho. Uma menina negra com a cara mais amassada que o normal, de longos cabelos cacheados que no momento parecem um grande ninho de urubu, olhos tão verdes que poderiam ser confundidos com duas esmeraldas e longos cílios que nunca precisariam de aplique. Essa sou eu. Sorrio pra minha imagem um sorriso forçado, mas por dentro, sabia que não haveria melhor corpo pra alguém como eu ter nascido.
      Arrasto-me até o banheiro, tomo um banho pé e cabeça e me dirijo ao guarda roupa para saber o que finalmente eu usaria. O dia está bonito, mas na Europa o frio é uma constante cruel, somente com o tempo e com muito esforço consegui me adaptar e achar 17 graus uma temperatura aceitável. Ao fim das reflexões, estava vestida quase como sempre. Legging preta, blusa branca, jaqueta de couro e um dos antigos cachecóis coloridos de tricô que minha mãe um dia fez pra mim.
      Bolsa na mão, sapato no pé e pasta de desenho alinhada. Finalmente estou pronta.
     O primeiro ponto de parada é a cafeteria mais próxima, sentadas lá já estão a Lohanni e a Adessa, minhas amigas de longa data. A Lohanni conheço a 3 anos, a considero incrivelmente bonita com seus cabelos loiros com mechas rosa, mas ela não acha o mesmo. Infelizmente ela é o tipo de amiga que você ama e ao mesmo tempo odeia. Não sei se se trata de inveja, mas é assim que me sinto em relação a ela, e às vezes acredito que a recíproca é verdadeira. No entanto, não conseguimos nos afastar, nos amamos , somos dependentes uma da outra e ótimas parceiras de equipe.
     Quanto a Adessa? Ela é um pouco mais apagada em relação a beleza. Faz o tipo nerdizinha que não atrai ninguém. Porém é engraçada, levemente boba, mas ainda assim muito engraçada, tem idéias impressionantes para os trabalhos e nunca irá poder roubar os meus namorados.
     Me junto a elas peço um capuchino e alguns pães de alho que só vendem ali. Fico feliz ao lado delas, finjo que escuto quase tudo que elas dizem e riu quase sempre com as piadas involuntárias da Adessa. Imagina só, café com leite condensado! Kk
     Minha atenção estava dividida entre o pão, as meninas e meus pensamentos que como sempre eram totalmente dispensáveis. Dispensáveis até o momento que chegou um grupo de rapazes que chamou muito a minha atenção, e então os outros itens que a dividiam ficaram todos em secundário. Claro que não os encarei. Não sou do tipo que encara, eu olho pelo reflexo do espelho, vidro ou qualquer outro item próximo. Se alguém desconfiar, meu olhar distante sempre funciona.
     De todos que haviam chegado somente um me fez imaginar aquelas coisas que toda garota imagina. Você sabe... beijos em situações que jamais aconteceriam e intensidades que transcendem a capacidade dos seres humanos atuais de sentir. Ele era alto, muito alto. Forte na medida certa, cabelo medianamente grande e de cor escura, pele bronzeada e olhos claros que com a distância não consegui identificar muito bem de que cor era.
     Totalmente distraída o encarando sem encarar, meu coração quase saiu pela boca. Ele subitamente me encarou por além do reflexo, isso nunca tinha acontecido antes. Meu susto foi facilmente notado e dificilmente ignorável. Só então percebi que o Lucio estava à mesa e as risadas das meninas sob um assunto do qual eu nem se quer fazia idéia de qual poderia ser, mas tenho certeza que participei ativamente da conversa somente balançando a cabeça.
     Mas de que importava? Eu simplesmente tinha que saber que era aquele rapaz.

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