11 de jul. de 2011

4- Sinta a poesia


Just do it ♪
A minha musica usual para me despertar, hoje soou como um martelo em meus tímpanos que fizeram a minha fronte quase explodir.
Era a dor do que já havia esquecido. A maldita ressaca veio me atormentar.
Não sei quem é mais maldita, a ressaca, a falta de costume, ou eu que bebi muito mesmo sabendo que não poderia.
Aos poucos que fui tomando de volta a minha consciência, cuspi as linhas do tapete e me acostumei com a luz dentre as cortinas que tentava furiosamente me cegar. Rolei para um lado e paro o outro, espreguiçada e pronto. Hora de tomar banho, por óculos escuros e fingir que nada aconteceu, ou tentar como uma verdadeira diva.
Era dia de piscina na casa do Lucio, e iríamos aproveitar pra fazer um trabalho. Na verdade a ordem era contraria, mas ninguém seguia a linha de importância mais lógica.
...
Aqui estou eu sentada em uma cadeira de plástico, com óculos escuros para cobrir as olheiras, me escondendo debaixo de um guarda-sol para não piorar a dor de cabeça, fones de ouvido para me isolar do mundo e um belo livro em minhas mãos para me dar alguma felicidade de deleite. Essa era a real eu, porem tudo que viam era uma bela garota dedicada aos estudos.
Estava perdida naquelas palavras
“Por minha virgindade quando eu tinha doze
anos: já a chamei. Minha ovelhinha. Vem cá, meu
coração! Deus me perdoe, mas onde está a menina?
Oh, Julieta!”
12 anos, temo me perguntar se sou uma idiota.
Jogo o livro marcado sobre a mesa, me recosto na cadeira e começo a observar os que se distraem à minha volta. Jovens, bonitos, cheios de rubridez e assim como em qualquer ambiente jovem, por todos os lados se sentia tensão sexual e alegria. Alegria de todos, menos a minha, que em alguns momentos desejava que todos morressem afogados naquela piscina.
Não sabia que o Lúcio conhecia tanta gente. A maioria dos rostos eu nunca tinha visto. Meninas lindas e garotos idiotas.
Estava perdida em meus pensamentos quando uma sombra se pôs a minha frente e disse:
- Você é a Louise não é?
Respirei fundo, e como se minha vida fosse escapar pelo excesso de palavras eu respondi:
- É.
Quando finalmente deixei de fitar a sombra e olhei para aquele que me procurava por cima dos óculos, percebi q era um rosto conhecido. Enquanto tentava buscar na memória de quem era aquele rosto. Um pouco intimidado pela frieza ele continuou a falar.
- Meu nome é Roger, eu te vi outro dia e fui procurar saber quem era você, vim aqui somente pra te encontrar.
Suspendi a sobrancelha intrigada, retirei os óculos e comecei a falar em pensamentos as características físicas daquele ser: alto, loiro, branco, cara de anjo, meio sem graça. Porém nada me vinha à mente, então sondei.
- Ah é, e pra que?
Notava-se pela cor da bochecha que ele havia ficado sem jeito, porem não desistiu e isso era no mínimo coragem ou burrice.
- Te vi pensativa na cafeteria, fiquei curioso pra saber no que estava pensando.
Ele havia dito aquilo sem grandes pretensões, porem caiu como um tijolo em minha cabeça fazendo lembrar-me de onde finalmente o conhecia. Ele estava com o garoto não identificado. Daí por diante não soube bem o que responder, não queria mais espantá-lo, porem não queria nada com ele. Então resolvi dar um pouco de conversa.
- É...? Puxe uma cadeira e sente aqui perto, não é todos os dias que encontramos garotos com curiosidades a cerca de um pensamento feminino.
Ele não se demorou a pegar uma das poucas cadeiras de sol vazias e puxá-la para perto de onde eu estava. Eu analisava a cena perdendo todo o meu arrependimento de ter ido a uma festa achando que era somente um grupo de estudos.
Como quem não quer nada, ele olhou o livro que deixei sobre a mesa e perguntou.
- É seu?
Acenei com a cabeça dizendo que sim e então ele pegou o livro admirando a capa original e disse:
- Duvides que as estrelas sejam fogo, duvides que o sol se mova, duvides que a verdade seja mentira, mas não duvides jamais de que te amo.
Deixou o livro sobre a mesa como se tivesse atingido um grande feito, e de fato conseguiu, arrancou de mim as palavras frias e desarmou minha auto confiança. Logo ele recolocou o livro sobre a mesa e disse:
- Ótimo livro! Está lendo pela primeira vez?
Disfarçando o leve desequilíbrio respondi com um sorriso sóbrio.
- 4° vez.
Aproximou seu rosto do meu e disse quase sussurrando:
- Que bom, pois o que seria de uma vida sem poesia?
Uma vez tendo dito isso, acarinhou minha tez com as costas da sua mão, me olhou nos olhos profundamente por alguns segundos, sorriu, levantou-se e saiu caminhando como se nada tivesse acontecido.
Fiquei parada, entorpecida. Quando uma voz de homem falou ao meu ouvido. “Sinta a poesia lhe tocar”.
Um vento forte percorreu meu rosto, me tirando do transe que por alguns segundos entrei. Olhem em volta e procurei quem pudesse ter falado aquilo inutilmente.
Tentando me restabelecer, olhei em volta e não demorei a ver Dessa acenando do outro lado da piscina à minha espera.
Fui me encontrar com ela e logo me uni aos outros.
Bebi pouco, fingi risos e fui uma pessoa pseudo feliz e altamente satisfatória por todo o resto do dia.

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